HOMEM DE CIRCO
GORDURINHA E A TROUPE JOVAL RIOS E SEUS ARTISTAS "Foi sob a lona colorida, pulando de cidade em cidade, que ele (Gordurinha) adquiriu sua natureza mambembe, traço de uma personalidade nômade. Da experiência circense levou consigo a capacidade de entreter o respeitável público por horas e a trabalhar o humor como válvula da arte, cunhando bordões e expressões que deixariam marcas indeléveis no simbolismo popular." Júnior, Jairo Costa - Gordurinha -Waldeck Artur de Macedo - Integra o Filé da Casta de Cronistas Nordestinos - Correio da Bahia, 15/02/2004
Joval Rios nasceu em Ilhéus (BA), no dia 22 de abril de 1919. Filho do comerciante de cereais Antonio Queiroz Pereira e Ermância Queiroz Pereira. Leda Rios – Durvalina Feitosa Pereira - nasceu em 11 de maio na Vila da Pedra (AL). Filha de Luiz Feitosa de Alcântara e Maria Isabel de Alcântara.
Ele desde criança teve vontade de conhecer o mundo, pessoas, lugares diferentes. Ela amava sua terra natal, mas como ele, queria conhecer o mundo. Aos 14 anos, ele começou a trabalhar como operador do Cine Teatro Ilhéus, onde aprendeu a desenhar cartazes de filmes, habilidade que lhe valeria sua entrada no circo, pois, no ano de 1937, seguiu com o Circo Havaí como pintor de cartazes. Assim Joval começava a realizar seu grande sonho: correr mundo. E, correndo mundo, Joval se formou na escola do circo como trapezista e palhaço.
Em 1941, já com Circo J. Lima, chegou a Vila da Pedra (AL), e na sua primeira exibição no trapézio, avistou Durvalina, no esplendor dos seus 20 anos. Morena faceira, Durvalina tinha muitos encantos. Um deles, que conquistou Joval de vez, foi sua voz aveludada que aliada a uma sensibilidade musical rara fazia dela uma cantora em potencial.
Quinze dias depois de se conhecerem, no dia 7 de agosto de 1941, eles se casaram. Com Joval, que na época já atuava como ator, Durvalina virou então a cantora Leda Rios: "- Cantei com muita paixão um repertório bem variado, do romântico ao samba rasgado. Me vesti de baianas e cetins, e sentia no palco uma emoção grande, dessas que arrepiam a pele da gente".
Os dois trabalharam no Parque de Diversões Versailles, quando ela estava esperando seu primeiro filho: Tairone Feitosa. Depois, eles montaram a Troupe Versailles e continuaram suas andanças em plena 2ª Guerra Mundial, sobrevivendo com o que podiam adquirir no trabalho. A vida não era fácil, mas eles estavam felizes.
As viagens eram verdadeiras aventuras, pois iam desde os caminhões, barcos, troles e trens até o lombo de cavalos, a exemplo da época da Guerra, quando iam aos lugares mais estranhos para fazerem apresentações, como cemitérios, alojamentos de soldados que estavam combatendo na guerra, e tantos outros. Anos depois, Joval, assim resumiria a vida circense: - O “raiar do Sol e o suspender da Lua” traduzem de forma primorosa a vida circense: O raiar do Sol – é a dura realidade da vida: armar e desarmar, torcer por público, esperar, esperar... O suspender da Lua é a magia do espetáculo, é a luz da ribalta, é o aplauso...
Em 1946, Joval e Leda Rios ingressaram no Circo Teatro Fekete, onde fizeram grandes amigos como Bob, Charles, Eros Arruda, Nini, Raquel e, principalmente Alberto Fekete que, de certa forma foi um mestre, lapidando-os na arte de interpretar.
Segundo Joval Rios, poucos teatros no Brasil tinham a qualidade de montagem de peças teatrais como o Circo Fekete. Grandes épicos eram levados como Os Miseráveis e A Queda da Bastilha. Deixando o Fekete, o casal montou novamente a sua Troupe – agora com o nome Joval Rios e seus Artistas.
Mais maduros, montavam esquetes e pequenas inserções teatrais. Dessa Troupe surgiram nomes de destaque na música brasileira, como é o caso de Waldeck Artur Macedo – o Gordurinha – autor da música "Súplica Cearense", Bianor Batista e Nelson Roberto.
Gordurinha estava com 19 anos quando conheceu o palhaço, trapezista e ator Joval Angélico Pereira e entrou para a pequena troupe de artista mambembes de Joval, uma das personalidades mais importantes da trajetória de Gordurinha.
Ele teve influência direta em sua formação artística. Entre eles surgiu uma grande amizade. Joval Rios foi como um irmão mais velho para Gordurinha, e também o grande incentivador da fase inicial de sua carreira. Na troupe de Joval Rios, Gordurinha entrou como cantor e violonista.
Mas em pouco tempo já fazia de tudo um pouco: cantava, tocava violão, apresentava espetáculos, representava. A troupe de Joval foi uma grande escola para Gordurinha. Seus professores eram artistas mambembes como Nelsom Roberto, Bianor Batista, o próprio Joval, e tantos outros artistas que iam passando.
Durante as excursões da troupe, além de cantar e tocar, Gordurinha passou a participar como ator, fazendo dupla com Zebedeu, personagem vivido por Joval Rios, de esquetes e passagens cômicas.
Quando começou a fazer a dupla com Zebedeu, Gordurinha ainda era Waldeck Artur Macedo. Ainda não existia o apelido famoso com que viria marcar seu nome na história da nossa música popular. Mas como Waldeck era um nome que soava pomposo demais para fazer parte de uma dupla de humoristas, eles começaram a bolar um nome artistico, um apelido mais apropriado.
Um certo dia, ao vê-lo sem camisa durante um ataque de asma, Joval teve a ideia: Gordurinha! Disse o amigo, entre risadas, aproveitando o paradoxo entre o apelido e a figura física. Inicialmente, Waldeck não gostou da brincadeira, resistiu, mas depois concordou, incorporando definitivamente o apelido que iria acompanhá-lo pela vida inteira. A dupla Zebedeu & Gordurinha fez grande sucesso nas praças onde se apresentou.
FONTE *circonteúdo *Gordurinha - Coleção Gente da Bahia - Torres, Roberto. 2ª ed. 2009.
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