HISTÓRIA DE GORDURINHA - TEXTO DE LAURA MACEDO
O compositor, cantor, radialista e humorista baiano Waldeck Artur Macedo, conhecido por “Gordurinha”, nascido em 10 de agosto de 1922 , em Salvador – Bahia, é uma daquelas figuras impagáveis, porém esquecidas da música brasileira.
Cursou até o segundo ano de Medicina, mas abandonou os estudos para seguir a carreira artística. Ganhou o apelido de Gordurinha dos amigos de rádio por sua magreza. Com 16 anos aprendeu a tocar violão apresentando-se em um programa de calouros na Rádio Sociedade da Bahia, em Salvador. Na época participou do grupo vocal "Caídos do Céu".
Observador perspicaz, povoou suas crônicas com tipos peculiares cheios de malícia e cunhou protestos sutis, angariando fama. Trabalhou ainda com teatro, excursionando por várias capitais do país. A fama de humorista relegou a um segundo plano o talento de compositor.
Nos anos 40 tentou a sorte no Rio de Janeiro, mas, não obtendo o mesmo sucesso que em Salvador, resolveu ir para Recife, onde atuou nas rádios locais. Disposto a tentar a vida no Rio mais uma vez, conseguiu entrar para a Rádio Nacional em 1952. Nas décadas de 50 e 60 gravou cinco discos, onde canta suas músicas humorísticas acompanhado por orquestras.
Em 1954 teve sua primeira composição gravada por Jorge Veiga, o baião "Quero me casar". Em 1957 apresentou na Rádio Nacional o programa "Varandão da casa grande". E ainda os programas "Café sem concerto" na Rádio Tupi e "Boate Ali Babá", na TV Tupi. Em 1958, Ari Lobo gravou um de seus grandes sucessos, o coco "Vendedor de caranguejo”.
Em 1959, o samba "Chiclete com banana", parceria com Almira Castilho (na época esposa de Jackson do Pandeiro), foi gravado com grande sucesso. Este samba, além de peça de teatro, foi tema de uma tira de histórias em quadrinhos, do desenhista Angeli e é nome de uma banda de música baiana. Ainda no mesmo ano, fez grande sucesso com o baião "Baiano burro nasce morto", que geraria um famoso bordão nas televisões da época. Em 1960 gravou mais um grande sucesso, o baião-toada "Súplica cearense", composto em parceria com Nelinho, composição considerada pela crítica como sua obra-prima e uma das músicas mais pungentes em solidariedade aos miseráveis da seca nordestina.
Em 1962 lançou o LP "A Bossa do Gordurinha", com destaque para "Baiano não é palhaço". Em 1963 pela Copacabana o LP "Gordurinha...um espetáculo", com destaque para "Fornalha" e "Baião bem". Como produtor musical ajudou a fazer os melhores discos do Trio Nordestino.
Em 1968, Augusto Boal dirigiu no Teatro de Arena de São Paulo o musical "Chiclete com banana", inspirado na música de Gordurinha, criticando as relações desiguais entre a música brasileira e a música estrangeira, particularmente a norte-americana.
Em 1972, Gilberto Gil, em disco lançado após seu retorno do exílio em Londres, regravou "Chiclete com banana". Em 1974, o cantor Macalé gravou "Orora analfabeta" e "Mambo da cantareira", no LP "Aprender a andar".
Em 1964 desgostoso com o golpe militar, fugiu de casa deixando com os familiares a determinação para que destruíssem tudo o que parecesse comprometedor, especialmente uma foto em que aparecia tocando violão para o presidente João Goulart e o governador Leonel Brizola. Maltrapilho e doente, só reapareceu meses depois.
Em 16 de janeiro de 1969, o músico, que durante toda a vida fora acometido de uma asma intensa, morreu de infarto, em decorrência de uma overdose de adrenalina, que ele próprio injetava para aliviar a falta de ar provocada pela doença.
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